Mistério da vida!

Do outro lado do morro existia um caminho. Caminho feito à mão, que levava para um povoado. O começo da história se deu lá. Lá onde as pessoas se conheciam.

Ao longo de caminho haviam árvores lindas. Era um luxo poder ficar descansando em suas sombras. O sabor delas nunca sairão de minha boca. A leveza e a espessura com que suas folhas se tocavam seduziam nosso olhar e tocavam nosso corpo. Eram macias como veludo e torcidas como cipó. Como as roupas enfeitadas de Salomão.

Do outro lado do morro dava para sentir a distância dos mundos. Era uma fantasia viver ali sem dor e sem luta. Os desenhos que os ventos faziam com as nuvens no céu, desenhos que depois de alguns segundos nem existiam mais, eram uma metáfora dos sonhos da gente. Ilusão. Sofrimento às vezes e risos ao nascer do sol. Debaixo das sombras das árvores podíamos encontrar sossego e descanso para a alma. Isso era coisa de Deus.

Se era verão ou inverno, se chovia ou fazia sol, era uma distância só que existia. De tarde, ao cair do sol era gostoso olhar para trás e sentir que se podia caminhar. Entre as montanhas de pedras e florestas havia uma trilha. A gente sabia que se seguíssemos a trilha chegaríamos em casa. Haviam pássaros no caminho que nos seguiam. E outros  cantavam nos galhos das árvores enquanto a gente passava por lá. Nunca pisamos em serpentes na escuridão da noite. Nunca fomos assombrados pelos vultos do mal. Os anjos nos guardavam.

Do outro lado do morro brotava um futuro. Era uma fonte cristalina e pequena. Aquelas trilhas nos levavam pra longe e nossos pés se acostumavam a andar sozinhos. Viver, nesta época, era uma brincadeira. Como chutar bolinhas pelo caminho e ver até quando elas durariam. Sempre nos encontrávamos a nós mesmos nos mesmos trechos. As pegadas, as falcatruas, as brincadeiras, os risos, a raiva e o amor. Trechos descompassados que formam a melodia do ser de cada um de nós.

Do outro lado do morro existia um mistério. O mistério da vida.

Ronaldo Sérgio

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