Cinzelar a alma.

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Existir é decodificar a forma
a massa informe que somos
e usar o pó restante
que ficou nas mãos de Deus.

É quebrar a camada dura
a pele petrificada
o reverso que o outro atura
da face falsificada.

Não é revestir a borra
insatisfeita de tudo
das lindezas toscas do mundo
do luxo que nada honra.

Existir é reunir a poeira
com candura nas mãos
e cinzelar a alma
com o cinzel de Deus.

É lavar-se da sujidade
antes que a morte chegue
sem medo e sem aflição
de ser o que é.

Não é fazer da massa
almificada com o sopro
uma compra, uma venda, uma traca
e depois jogá-la fora
descartável ou reciclável.

Existir é sair pra fora
pra fora de si,
do mundo das coisas
que atravancam a existência
e embotam o ser.

É mais que viver
ou deixar a vida passar,
bestas também vivem
e nunca se desembestam.

Existir é ser pro outro
aquela massa diferente à nossa frente
descompassada, informe como nós,
capaz de ser o que não somos
e de dizer não,
pois é massa que fala.

Não é querer moldar alguém,
nem a Deus como desejamos,
nem fazer ramal do mundo
com nossas vontades infantis.
Uma terceira perna
pra justificar nossos sonhos.

É encontrar o pó restante
que ficou nas mãos de Deus
pó que ele vai jogando aos poucos
cada dia, um atrás do outro
para que se complete a obra
e a massa informe
se torne o que não é e exista
ex-bicho, ex-coisa, ex-mundo, ex-monstro.

Existir é moldar a massa inacabada
e se tornar humano…

Ronaldo Sérgio